Diante dos diferentes problemas vivenciados pela humanidade, sente-se a necessidade de conscientizar a população da importância de um mundo mais fraterno. Pensando e refletindo sobre isso, o Colégio Frederico Jorge Logemann vem trabalhando, de diferentes formas com seus alunos, a questão dos valores humanos, tais como: ética, justiça, amor, respeito, dignidade, honestidade. Solidariedade e generosidade foram as temáticas, em todas as disciplinas, do "Provão" deste bimestre realizado no dia 19 de abril aos alunos do ensino médio. Os textos que serviram de base para a elaboração da prova contextualizada foram "Uma alma caridosa" de Clarice Lispector e "É tempo de solidariedade" de Janice I. Fischer Conti e Nadir P. Gomes.
UMA ALMA CARIDOSA
A moça passava pela rua, depressa, emaranhada nos seus pensamentos. Foi quando seu vestido a reteve; alguma coisa enganchara a sua saia. Voltou-se e viu que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira dava um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais que suas palavras meio engolidas, informavam a moça de sua paciente aflição. Percebeu vagamente um pedido antes de compreender seu sentido concreto. Um pouco aturdida olhava-o, ainda em dúvidas se fora a mão da criança o que lhe ceifara os pensamentos.
-Um doce, moça, compre um doce para mim.
Ela acordou finalmente. O que estivera pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar-lhe uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como a chuva pode matar a sede de quem quer um copo d"água. Sem olhar para os lados, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde seguramente algum conhecido tomava sorvete, ela entrou, foi ao balcão e disse com dureza para a caixeira: "Um doce para o menino". De que tinha ela medo? Não olhava bem a criança, queria que a cena terminasse logo. Perguntou-lhe: "Que doce você..." Antes de terminar, o menino disse apontando depressa com o dedo: Aquelezinho ali, com chocolate por cima". Um instante ainda perplexa, ela se recompôs logo e ordenou à caixeira que o servisse. " Que o outro doce você quer?" - perguntou o menino. Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-a um instante e disse com delicadeza, mostrando os dentes: " Não precisa de outro não". " Precisa sim" _ cortou ela ofegante, empurrando-o para frente. O menino hesitou e disse: " Aquele amarelo". Recebeu um doce em cada mão, levando as duas acima da cabeça, com medo de apertá-los. Foi sem olhar para a moça que ele fugiu. A caixeirinha olhava tudo com uma emoção fixa no rosto.
- Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as pessoas que passavam, mas ninguém quis dar.
A moça foi embora, corada. Inútil querer voltar aos pensamentos anteriores. Estava cheia de um sentimento de amor e gratidão e, como se costuma dizer, o sol parecia brilhar com mais força. Ela tivera a oportunidade de... Para isso fora necessário um menino magro... E que os outros não tivessem dado.
( Clarice Lispector)
Texto 2
Tempo de Solidariedade
No começo da noite, em muitos lugares do mundo, as pessoas voltam para casa após um dia de trabalho, estudo e ocupação. Ao entardecer, a maioria de nós não consegue admirar, no meio dos prédios e da iluminação das ruas, como é bonita chegada da noite. Banalizados pelo cotidiano e movidos por um gesto rotineiro, damos uma pausa ao nosso corpo, depois de uma dura jornada. Apertamos o botão da televisão. Várias telinhas ligadas, em diversos lares do mundo, mostram cenas de um colorido fantástico.
Esse culto a uma imagem bonita e rica gera um modelo de perfeição impossível de ser alcançado. Mas alimenta, economicamente, vários setores da sociedade. De alguma maneira, todos somos imediatistas, em que o individualismo e a competição são personagens principais no cenário da sociedade financeira. Por isso, o comportamento humano carece de princípios que venham dar um direcionamento no seu modo de viver em sociedade.
Indignados pelo sofrimento causado por essa desigualdade, questiona-se sobre o que fazer para inverter essa situação. Urgentemente, deve-se pensar numa globalização da solidariedade. Já existem grupos de pessoas, sobretudo jovens, em todos os países do mundo que procuram desmascarar essa globalização da insensibilidade das minorias, lutando pela globalização da solidariedade.
A solidariedade nos diz que pertencemos a um conjunto, a um todo. A solidariedade é, também, o alicerce que nos sustenta para enfrentar os conflitos que sempre fizeram parte da vida. Cabe cada um aprender a lidar com eles, apoiando e sendo apoiado por outros homens e mulheres. É preocupante pensar que os meios de comunicação desviam a nossa atenção da solução dos problemas sociais mais urgentes.
Redescobrir a solidariedade é perceber que não somos indivíduos sem vínculos, pois fizemos parte da espécie humana. Somos amor, sonho, alegria, herdeiros e agentes de cultura.
Autoras: Janice Fischer Conti/ Nadir Pimentel Gomes